Um ano

Em um ano muda muita coisa. Muita.

Esses dias andei relendo alguns dos meus textos passados. Alguns nem tão antigos assim. E vi que, em alguns momentos, eu não me reconheci. Mudei. Não na minha essência, mas em algumas das minhas posições e, principalmente, na minha forma de me expressar.

Faz um ano que me tornei mãe. E, ao me tornar mãe, desacelerei. Vi o mundo correr diante dos olhos. Vi as pessoas com pressa. Pressa de ir e vir, de curtir, de ver o filho crescer, da gravidez passar, do parto acabar, da promoção no trabalho chegar, da faculdade terminar. Pressa pressa e pressa.

Enquanto isso eu, daqui, vi meu filho seguir seu início de vida no seu ritmo, sem que eu pudesse ou quisesse fazer qualquer coisa a respeito. Três meses para passarem as cólicas. Dois meses para o primeiro sorriso. Seis meses para o primeiro dente e para engatinhar. Dez meses para andar. Oito meses para falar “mamãe” pela primeira vez (ok, nessa ele ainda não sabia o que significa “mamãe”, mas eu fingi que ele sabia!). 38 semanas para nascer, mas poderia ter sido mais, não fosse a recomendação médica de induzir o parto.

Quando releio meus textos do passado, percebo o quanto eu era… acelerada! E o quanto eu observava pouco e ouvia pouco. Já observava com meus julgamentos prontos. Procurava apenas a confirmação deles. E perdia, com isso, as nuances da vida, as coisas pouco óbvias. Ou, na verdade óbvias o suficiente para serem consideradas garantias e postas de lado.

Meu filho me ensinou a ver o que o que eu tinha perdido o hábito de ver e admirar. Ele adora olhar para cima. Copas de árvores, céu, texturas do teto. Desde poucos meses. Ele também adora colecionar pedrinhas. Também colher florzinhas para jogá-las dentro do buraco de ventilação do prédio e vê-las caindo, rodando.

Eu não sabia mais a beleza de nada disso. Pouco olhava para o céu ou para as copas das árvores. Nunca observava a riqueza de texturas, tamanhos, cores e formas que se pode observar nas pedras. Eu me vejo aprendendo algo novo todos os dias com um menino de um ano de idade. Sobre tempo, sobre nuances, sobre o óbvio que esquecemos, sobre a simplicidade das coisas que insistimos em complicar, sobre a importância de tesouros que estão de graça nas nossas vidas.

Um ano.

Não quero mais ser tão radical. Nem tão revoltada. Nem tão apressada. E estou apenas começando nessa caminhada.

O mundo nas mãos

Um debate na rede social, afinidade de ideias, troca de contatos, mensagens. Um casal de amigos em comum. Dos reais. Fiz uma nova amizade via tela e teclado.

Não é a primeira. Não será a última. 

O mundo definitivamente mudou. Meu filho já não entenderá o mundo no qual eu vivi, de encontros apenas reais, para o qual não há retorno. E isso é estranho. É bom, por amizades que eu não teria no mundo de outrora. E também estranho por me colocar diante de um futuro tão inóspito e acelerado, onde relações humanas se modelam por outros meios além do olhar, do toque, da voz. Por vezes há apenas um teclado e uma tela. 

Estranho mundo de estradas virtuais, sem terra no sapato e um céu aberto sobre a cabeça. 

A estrada de hoje me levou ao Brasil, por um gadjet que estava na minha mão. 

Pois é. Tirando a poeira deste blog aqui. Só mudou o nome. Eu não sossego! 

Desbravando Portugal

Passamos três semanas por lá. Lisboa e arredores, Algarve, Porto e uma esticada na Espanha, em La Coruña, para visitar uma amiga.

Pegamos um período de baixa temporada. Pouco movimento nas praias, preços baixos, tudo muito tranquilo. Mas também precisamos lidar com a mudança do clima. Foi a época em que as chuvas começaram a voltar. E quase uma semana de chuva no Algarve deixa qualquer um com pouca alternativa de ocupação que não seja comer.

E come-se bem! Muito bem! Todos os restaurantes onde comemos foram bons! No Algarve, ficamos em apart-hoteis, com cozinha, e preparamos nossos jantares. Compramos peixe e frutos do mar frescos no mercado de peixe da cidade e preparamos. Ah, os camarões… E ainda descobrimos algumas novidades, uns mariscos e moluscos que não conhecíamos.

A gravidez em suas primeiras semanas não incomodou muito. Senti apenas muita azia com comidas mais condimentadas ou gordurosas. Também poupei-me de esforços. Cancelamos as caminhadas no parque Peneda Gerês, inicialmente planejadas, prolongamos o tempo no Algarve.

E os portugueses… bem, descobrimos de onde vem o jeito hospitaleiro e amigável do brasileiro. É deles! Pessoal simpático, receptivo, do tipo que puxa conversa, conta causos, dá explicações e dicas. Assim de graça. Na recepção do hotel, nos restaurantes, nas lojinhas, na rua. E não, não tivemos qualquer dificuldade de comunicação com o Português lusitano.

Portanto, se você planeja ir a Portugal, vá sem receios. O país é muito bonito, as praias do Algarve são lindas, o Castelo de Cintra parece ter sido deixado ontem pela família real portuguesa… há muito a se ver. Muita comida gostosa, muita gente simpática.

Publico algumas dicas mais concretas em breve. Onde ficar, onde comer, o que fazer.

Um caminho sem volta e sem mapa

E eu que pensei que teria muito o que escrever sobre esses caminhos… da Baviera e da vida. Da transição para a maternidade e das novas reflexões que isso traz.

Mas, na verdade, o que aconteceu foi que entrei em fase de instrospecção, misturada a alguns momentos atribulados. Por um lado uma série de eventos ocupou muito meu tempo e mente, por outro… eu me fechei um pouco. Guardei meu tempo livre para mim. Guardei minhas reflexões para a intimidade. Vivi aqueles momentos de pensar na vida, nas pausas entre um fato novo e outro. E fatos novos foram muitos, entre alguns bons e outros nem tanto.

Talvez tenham sido  justamente esses fatos novos que tenham me levado a essa introspecção. Porque, de repente, aquelas coisas que achei que fosse compartilhar ganharam um status de intimidade que eu preciso trabalhar dentro de mim. Sem interferências, sem comentários, sem nada. Apenas nós três aqui e Deus.

Sim, foram muitos fatos. Visita da minha mãe, viagem a Paris, um problema de saúde na família, uma mudança anunciada no trabalho que, a médio prazo, pode impactar muita coisa, uma perda surpreendente e muito… estranha.

E, no meio disso tudo, um menino crescendo dentro de mim, com saúde, com vontade, com muito movimento. Como mexe! Como me encanta! Sete meses nesse caminho da maternidade, vivendo o desenvolvimento desta que é a relação mais visceral e forte que já vivi em toda minha vida.

Algumas amigas ou conhecidas estão grávidas ao mesmo tempo que eu, mas sinto pouca identificação. Não, não estamos vivendo a mesma coisa. Cada experiência é única. Por mais que eu compartilhe esperiências e impressões com elas, ou com quem já é mãe, essa sensação de me sentir meio um E.T. às vezes me surpreende.

Tem sido uma fase bem intensa. Sobre a qual não tenho muito o que falar, ou escrever. Pelo menos não agora. Apenas a sentir, refletir, deixar levar, viver. Viver. Só dá para ir adiante. Só dá para se deixar surpreender. Não dá pra prever o que vem. Achei que daria por algum momento, mas não dá. Definitivamente.

É um caminho sem volta e sem mapa.

 

Parteira, barriga, e outros assuntos

Conheci a “minha” parteira semana passada. Ou pelo menos uma candidata a parteira. Simpática, calma, veio aqui em casa. Foi pra nos conhecermos mesmo. Tirei dúvidas, contei de mim, dos anseios e dos medinhos. Desfiz alguns mitos, me tranquilizei com algumas questões. Posso chamá-la quando tiver dúvidas, ou telefonar. Ou, no mais tardar, nos vemos no resguardo, já que combinei de ter parteira só depois do parto. Ficamos combinadas.

Também na semana passada, um belo dia acordei, levantei, me olhei no espelho e lá estava elá, redondinha, levemente saliente, destoando do resto do corpo… Oi, barriguinha! Tudo bem? Apareceu de repente! Ou será que não? E eu achando que era banha… Nunca foi um tanquinho, né?

Mandei fotos pra família. Sogrinha ansiosa, feliz e comovida com o netinho/a que se aproxima que adora a rede social perguntou se podia postar para “mostrar para as amigas”. E eu, que adoro minha privacidade, fiquei entre a defesa da mesma e a alegria da vovó. Poxa, é avó, né? Negociamos que ela poderia mandar para as amigas por mensagem privada. Tudo na paz.

Recebi algumas respostas por e-mail. Não sabia que uma barriguinha ainda tão pequenininha fosse causar tanta comoção! Talvez por estarem todos distantes, sem acompanhar esse processo de desenvolvimento da gravidez, recebendo as notícias por “drops”. É bonito de se ler!

A família está mais ansiosa para saber o sexo do bebê do que eu! Tia diz que é pra escolher o presente. Por que as pessoas só sabem pensar em azul ou rosa quando se fala em bebê, com tanta cor bonita por aí? E eu nem gosto tanto assim de rosa.

Amanhã tem consulta, se a timidez não for característica do bebê, temos uma chance de saber, teoricamente. E não, ainda não sabemos o nome. Acho que só vamos decidir quando nascer.

Estou procrastinando sobre temas importantes. Creche, papelada da licença parental, exercícios. Pre-ci-so mudar isso. Já!

De mamãe para bebê

Meu bebê, essa é a primeira vez que escrevo pra você. Papai foi jogar futebol. É domingo, tempo meio cinzendo e eu ainda estou me recuperando de um resfriado que me deixou de cama no fim de semana. Espero que você não tenha sentido nada aí de dentro. O médico garantiu que você ficaria bem, que não havia com o que me preocupar!

Hoje tenho aquela sensação de que o amo mais um pouco, e isso só vai crescer. Penso muito em você. Ainda não sei se você é um menino ou uma menina. Pra mim tanto faz, mas confesso que sempre sonho com meninas quando crianças me visitam durante o sono… Não sei o que isso significa ao certo. Também não estou tão ansiosa para saber. Vou saber na hora certa! E como ainda não sabemos, também ainda não temos um nome pra você. É uma escolha cuidadosa e muito especial, e ainda temos tempo para ela. Até lá você é o meu bebê!

Você vai chegar entre dois países. Papai e mamãe são do Brasil, mas moramos na Alemanha, onde você vai nascer. A nossa família está no Brasil, que fica muito longe. Mas aqui também nós “adotamos” uma família do coração! Então você já chega aqui recebido por tios, primos, amigos, tias-avós, um bisavô, uma bisavó, a vovó mãe do papai e a vovó mãe da mamãe. E tem ainda uma priminha do coração muito esperta, ou irmãzinha do coração. Ela vai fazer cinco anos depois que você nascer, mas já beija você na barriga da mamãe, já faz perguntas sobre o seu tamanho… ainda está com um pouco de ciúmes, mas isso passa!

O papai não para de beijar a barriga da mamãe, sempre conversa com você. Diz “bom dia” e “eu te amo” toda a manhã, e também “boa noite” antes de dormir. Ele é doido por futebol e vai ninar você com o hino do Fluminense! A mamãe gosta de música, de cozinhar coisas gostosas… mas anda com pouco tempo para tocar piano. Prometo tocar mais em breve! Mamãe e papai são muito calminhos e carinhosos, então se prepare: vamos encher você de dengos!

Em maio você chega. Aqui vai ser primavera, e esperamos que seja um lindo dia de sol! Depois queremos levar você ao Brasil para conhecer a família. Espero que você goste de voar de avião!

O mundo que o espera aqui é muito interessante. Tem uma natureza linda, pessoas amorosas e ansiosas pra você chegar além de nós, o papai e a mamãe. Tem também muita coisa louca, gente de todo tipo, mas quanto a isso não se preocupe. Nós vamos ajudar e ensinar você a lidar com tudo isso da melhor maneira possível. Sei que não poderemos evitar algumas dores que você venha a passar por aqui, embora quiséssemos muito. Mas poderemos preparar você para que você passe com elas com amor, serenidade, coragem, força e sempre cercado de gente que o ama muito, jamais sozinho. Você terá anjos que Deus vai colocar no seu caminho para se fazer presente na sua vida e cuidar de você. E, no final das contas, acho que é justamente nessas coisas que você vai aprender a encontrar a tal da felicidade. E sei que você vai ser tornar um homem ou uma mulher capaz de fazer as coisas por aqui serem um pouco melhores do que seriam sem você.

Deus cuida muito de você, meu amorzinho! Acima de todos nós, Ele é o que mais o ama, que fez o milagre de você existir, e a quem agradecemos sempre por você! E ele cuida e vai cuidar sempre de você, em toda a sua vida!

Beijos da mamãe que já ama muito você!

Reflexoes sobre parto

Essa semana li diversos artigos sobre parto, a maioria do Brasil, com ênfase na “epidemia de cesáreas eletivas” que acontece por lá. O assunto já é antigo, apenas ganhou o nome de “violência obstétrica” ou similares nos últimos anos, e algumas ativistas que, estruturadamente, levantaram a bandeira e passaram a lutar pelo direito das mães que querem parto normal.

Minha mãe conta do diálogo que teve com o médico quando engravidou de mim e foi fazer a primeira consulta para o pré-natal. Naquela época ele já queria marcar a cesárea. Falou de todas as desgraças que poderiam acontecer em um parto e terminou com a pérola: “Se o médico não for muito bom de bola, morrem mãe e filho”.

Mamãe muito educadamente respondeu: “Doutor, quem dá a vida ao meu filho não é o senhor. É Deus.” Virou as costas e saiu. Procurou outro médico, que  também queria fazer a cesárea. Ela fez que tudo bem, seguiu com o pré-natal. No último vez não voltou mais lá. Entrou em trabalho de parto, foi para a maternidade pública e lá em nasci, depois de um parto tranquilo de quatro horas.

Com meu irmão foi parecido. Teve bate-boca com médico durante o parto e tudo. Frases do tipo “você está me contestando?”, foram respondidas por ela com um “sim senhor, ninguém vai machucar meu bebê!”. A discussão era por causa do uso do fórceps, já que meu irmão estava de queixo, depois de doze horas. Acabou virando cesárea de emergência.

Mamãe, que orgulho que tenho dela! Poderia ser ativista contra a violência obstétrica nos dias de hoje! Simplesmente não aceitou vários mitos e não se deixou aterrorizar. Em parte por estar bem informada depois de ter trabalhado em alguns congressos médicos, em parte também por puro instinto materno.

E eu, que cresci ouvindo essa história, que sei do meu nascimento e do nascimento do meu irmão, sem flash nem pompa, nem foto e filmagem do parto (elas nunca nos fizeram falta), mas cheios de saúde, observo esse auê hoje no Brasil, essa mercantilização do tema, essa insistência em se vender o nascimento como evento e a cesárea (que de parto não tem nada, é cirurgia mesmo) como normal, fico a me perguntar: se parto normal é tão ruim assim, como é que a humanidade sobreviveu por tantos milhares de anos sem a cesárea?

Nota: Acho a cesária ótima para salvar vidas em casos de emergência.  E eu acho que ainda vou escrever algumas outras reflexões sobre esse e outros assuntos por aqui…

Licença dos pais e outras questões administrativas e legais

Essa semana tive uma reunião com o RH da empresa onde trabalho para esclarecer questões administrativas e legais relativas à gravidez e ao trabalho.

Primeiro as questões legais. Confirmei e esclareci detalhes a respeito da licença maternidade e da licença dos pais. Funciona assim, por lei:

– Licença maternidade (“Mutterschutz”, ou “proteção da mãe” em tradução literal): vale a partir de seis semanas antes do nascimento até dois meses após o nascimento. Nesse período o salário da mãe é pago integralmente pela empresa. A lei da proteção da mãe também tem alguns detalhes válidos durante a gravidez, como por exemplo a proibição da reinvidicação de horas extras, a liberação para consultas médicas e a proteção contra demissão. Ou seja, a lei já é aplicável no momento do anúncio da gravidez.

– Licença dos pais (“Elternzeit”, ou “tempo dos pais” em tradução literal): é um benefício do governo, pago aos pais por doze meses após o término da licença maternidade. Nesse período, o governo assume o pagamento de sessenta porcento do salário de quem estiver de licença, seja o pai ou a mãe. Pai e mãe podem também compartilhar esse período, ou acumular parte dele. Por exemplo, ambos tiram a licença juntos por dois meses, depois um tira cinco meses e o outro mais cinco. Ou ambos tiram seis meses juntos, ao mesmo tempo. O empregador é obrigado a receber o funcionário no mesmo cargo após o período de doze meses ou menos. A mesma licença pode ser ainda estendida por até três anosmas sem remuneração a partir do décimo terceiro mês. Nesse caso, após o fim da licença, o empregador tem que receber o funcionário de volta após o término da mesma, mas não necessariamente no mesmo cargo.

O “Elternzeit” depende ainda da política de pessoal da empresa. Apesar de ser um direito garantido por lei, ainda existem empresas que a veem com maus olhos, não incentivando ou dificultando o reingresso do funcionário na volta ao trabalho. É menos comum no caso das mães, mas estima-se que cinquenta porcento dos homens encontrem ainda dificuldades na negociação da licença com seus empregadores. Mobbing e ameaça de demissão depois da volta ao trabalho e fim da proteção contra demissão são algumas práticas. Em resposta, homens decididos a assumir a paternidade e reinvidicar seus direitos estão cada vez mais dispostos a pedir demissão e procurar uma empresa mais amigável e favorável a políticas familiares, o que gradativamente tem mudado esse quadro.

Eu e marido trabalhamos na mesma empresa que, felizemente, tem uma política bem amigável nesse caso. Ainda não sabemos como será no caso dele, uma vez que ele ainda tem um contrato temporário e está ha pouco tempo. Pode ser que isso influencie nas negociações na hora que quisermos compartilhar esse tempo. No meu caso, meu chefe está mais aberto. O comum por aqui ainda é que a mulher tire um ano. Pra ele qualquer período que eu tire menor do que esse já é bom.

– Meio-expediente: depois de voltar do Elternzeit, posso pedir uma redução de contrato para vinte ou trinta horas. Eu sinalizei essa possibilidade quando falei pro meu chefe que estava grávida, ele sinalizou que prefere que eu volte em tempo integral. E eu confirmei que, se eu pedir redução de contrato, a empresa não pode, por lei, negar. Não sei ainda como vai ficar isso na prática, mas ainda temos tempo para decidir e comunicar essa decisão.

No mais, a empresa ainda tem um serviço de auxílio na procura por creches e alternativas. Creches são um problema aqui na Alemanha, especialmente na Baviera. Sobram crianças e faltam vagas. As filas de espera duram meses. Mas há alternativas.

Por exemplo, aqui em casa nós simpatizamos com a ideia da Tagesmutter antes da creche, como forma de transição. Tagesmutter é como se fosse uma babá especializada. Faz curso, atende em casa, precisa responder a diversos mecanismos de controle e fiscalização do governo, tem um programa de atividades e cuida de um grupo de, no máximo, cinco crianças. É um meio termo entre a babá tradicional que vem à nossa casa e a creche.

A empresa ajuda na busca de Tagesmutter e babysitter (a babá que bem em casa, sem ter necessariamente qualquer curso para isso), mas não pode ajudar muito na busca de uma creche. Essa está sujeita à lei mesmo. E, também como benefício da empresa, temos um jardim “back-up”. São vinte dias por ano mais dez dias durante as férias de verão. Esse jardim cobre os dias em que a creche fechar por causa de férias ou a Taggesmutter estiver doente, por exemplo.

Opções se concretizando, mas nada decidido ainda. Acho que conseguimos encaminhar as ideias neste fim de semana. De creche já temos uma opção de excelente conceito pedagógico e comandada pelo nosso melhor amigo. Ainda assim, precisamos fazer a inscrição e dizer para quando queremos. O tempo passa rápido…

Visita à clínica nr. 1

Hoje saímos do trabalho e fomos na “noite da informação” em uma clínica que foi recomendada por minha melhor amiga, que teve a filha dela lá. Semanalmente eles fazem uma reunião para os futuros pais, onde apresentam a clínica, explicam como o parto ocorre, os cuidados com o bebê, os procedimentos em casos de problemas e tudo mais que for relevante. Depois mostram as instalações, salas de parto e quarto. E tiram dúvidas.

Não chegamos a ver um quarto, estavam todos ocupados. Mas vimos uma sala de parto, conhecemos uma parteira, tiramos dúvidas, conhecemos os procedimentos deles, a filosofia e alguns posicionamentos.

Já falei que os partos aqui são feitos por parteiras. Não há cesárea com hora marcada. Cesárea só acontece em caso de emergência, caso alguma coisa dê errado.

Na clínica funciona também a escola de parteiras. Durante o parto, a mãe não é assistida apenas pelas parteiras experientes, mas também tem assistência das estagiárias, devidamente supervisionadas.

As instalações são ótimas! Eu me senti muito bem lá! Também me senti bem com as explicações dos procedimentos. Médicos e anestesistas estão lá de plantão 24 horas para casos de emergência, há UTI neo-natal. E dá pra ter parto na banheira, em pé, de cócoras, deitada…. está tudo lá para a mãe experimentar e escolher na hora, de acordo com a opção que a fizer sentir mais confortável.

Não vimos nenhum ponto de crítica. Nada. Poderia parir lá amanhã mesmo. Nem sei se preciso ver as outras clínicas. Talvez por desencargo de consciência, padrão de comparação, quem sabe não tem algum critério supérfluo que me salte aos olhos na outra. Sei lá. De qualquer forma, ainda temos tempo.

Algumas observações interessantes, relativas à postura da clínica sobre o momento do nascimento e pós-parto:

  • Visitas de familiares que não sejam o pai da criança e/ou irmãos da criança são fortemente desencorajadas. O motivo é garantir o descanso e adaptação da mãe e do bebê. Mãe fica cansada, bebê também, a amamentação geralmente não funciona de primeira e exige paciência… daí a presença de mãe, sogra, tio, tia, periquito e papagaio tende a ser vista com maus olhos pelo pessoal da clínica. Visitas, só em casa, quando mãe e bebê tem alta. Compreensível.
  • Quartos são duplos. Há uns poucos quartos individuais e, em caso de lotação, enfermaria. E nem todos os quartos tem banheiro. Mas há banheiros no corredor à vontade.
  • Há a possibilidade de quarto para acompanhante, mas depende da disponibilidade de quartos individuais. E paga-se à parte, como se fosse um hotel. A argumentação é muito simples: não se ocupa um leito com acompanhante saudável, quando pode-se ocupá-lo com alguém que realmente precise dele. E isso vale inclusive para o caso do visitante ter dinheiro ou um seguro privado. A prioridade é do paciente.
  • A estatística de recusa de recebimento de parturientes por causa de superlotação é de dois casos por ano, em média, quando acontece. Nesse caso, ela é enviada para umas das clínicas mais próximas. Já falei que são quatro em um raio de quatro quilômetros, não falei? Há outras a uma distância maior também. E casas de parto.
  • Em quartos duplos, a mamãe que quiser sossego caso a companheira de quarto receba visita tem salas de amamentação à disposição, com toda privacidade, paz, conforto e sossego. Há enfermeiras e parteiras de plantão 24 horas para ajudar no processo.
  • Bebês podem ficar 24 horas no quarto com a mãe. Mas não precisam. Se mamãe precisa descansar, pode pedir pra enfermeira que ela leva o bebê para o berçário.
  • É possível doar sangue do cordão umbilical para um banco de células-tronco. Mas esse sangue não será necessariamente usado pelo próprio bebê, caso precise. A parteira explicou que, caso o bebê tenha um problema e precise das células tronco, a probabilidade destas também terem o problema é grande. Assim, recorre-se ao banco. Mas, caso os pais queiram “guardar” para o próprio filho mesmo assim, eles o fazem também (mas explicam que não faz sentido).

Curioso é que eu saio de lá satisfeitíssima. Porque lá tem tudo que eu vou precisar em termos de cuidados, opções e infraestrutura. Eu não preciso de quarto individual. Não preciso nem do banheiro no quarto, caminhar um pouco mais até o banheiro previne trombose! Eu também não preciso que ninguém durma comigo lá todo dia, não vou morar lá! Nem preciso de sala reservada pra família inteira enquanto eu estiver parindo, esperando o bebê nascer. Seria legal, mas nada disso é nem um pouco necessário. São confortos perfeitamente dispensáveis para que outras, como eu, também tenham acesso aquilo ao que todas nós de fato vamos precisar. Afinal, quantos leitos não poderiam ser ocupados por gente que precisa no lugar de familiares esperando para fazer uma festa?